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Prevenção e combate à dengue

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Com os recuos alcançados na pandemia do novo coronavírus, uma velha e constante preocupação sanitária volta a ocupar o lugar de destaque na cena nacional: a dengue. Com mais de 120 mil casos confirmados, Goiás se mantém à frente das estatísticas, tendo excedido, neste primeiro semestre, em mais quatro vezes, a taxa média de incidência da doença no País. O recorde, jamais visto, supera em quase 300% as notificações registradas no mesmo período do ano anterior.  

Um aumento sustentado e decrescente dos números foi sendo contabilizado até a 25ª semana do ano, quando começou a haver, então, uma redução nas notificações. Em Goiânia, a segunda cidade mais afetada do País, atrás apenas de Brasília, foram registrados, no período, 25 óbitos e outros 31 estão sob investigação. As informações foram obtidas em recentes boletins epidemiológicos divulgados pelas pastas de Saúde estadual e municipal, respectivamente.

Para o presidente da Comissão de Saúde na Casa, deputado Gustavo Sebba (PSDB), os dados refletem uma situação que se tornou ainda pior durante a pandemia. Segundo o parlamentar, o deslocamento dos agentes de saúde para outras demandas, foi um dos fatores que mais prejudicou os trabalhos de combate e prevenção à dengue. 

Somado a isso, Sebba observa ter havido, também, uma maior negligência por parte da população em geral. “Agora, é preciso uma força tarefa para que a fiscalização seja intensificada e para que haja muitas campanhas de conscientização e educação sobre o papel do cidadão no combate ao mosquito”, defende.

Nova variante

Além dos números, um outro sinal de alerta foi acionado em maio, após o anúncio da descoberta de um novo tipo de vírus da dengue no estado. A variante foi encontrada no município de Aparecida de Goiânia, a partir de uma amostra colhida de um caso confirmado da doença em novembro do ano passado. A Fiocruz e o Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás são as responsáveis pelo achado. 

O episódio ficou conhecido como o primeiro do gênero, no Brasil, e o segundo da América Latina. Em 2019, o chamado sorotipo 2 do vírus da dengue marcou entrada no continente, tendo sido então identificado, incialmente, no Peru. De genótipo cosmopolita, a cepa já vinha se destacando, antes, como a linhagem mais disseminada no mundo, estando presente também na Ásia, no Oriente Médio e na África. 

Especialistas afirmam, no entanto, que, embora mais transmissível, a nova variante não é responsável pelo atual surto da doença em nenhuma região do País. Ao todo, são reconhecidos, hoje, no mundo, quatro sorotipos da dengue. Todos podem provocar manifestações, igualmente, assintomáticas, brandas e graves, incluindo fatais. 

Marco do saneamento

Enquanto presidente da Comissão de Saúde na Casa, Gustavo Sebba, que também é médico e especialista em dermatologia, lembra que há muitas legislações de combate à doença, hoje vigentes tanto a nível nacional como estadual. “Muitos projetos de lei já foram apresentados, aprovados e sancionados. Porém, não adianta o Poder Legislativo legislar sem que o Poder Executivo concretize essas ações na ponta. É preciso investir em prevenção, vigilância sanitária e saneamento básico para que a dengue deixe de ser um problema crônico”, alerta.

Dentre as legislações já em vigor, o parlamentar destaca o novo Marco do Saneamento Básico, que foi aprovado pelo atual Congresso Nacional e sancionado pela presidência da república em 2020. A expectativa de Sebba é que a norma traga avanços importantes, uma vez que contribui para desburocratizar e modernizar os processos de implementação de redes de esgoto, distribuição de água potável e coleta de lixo. “Contudo, esse é um processo que leva tempo, razão pela qual a gente precisa manter a atenção na vigilância, tanto por meio de agentes sanitários quanto pelo esforço comunitário para impedir a proliferação do mosquito vetor”, reitera.

Ações na Alego

Medidas de prevenção e combate à doença foram apresentadas em dois projetos de leis postos em tramitação na atual Legislatura da Alego. No mais recente deles, o deputado Talles Barreto (UB) defende a distribuição gratuita de repelentes para gestantes nas Unidades Públicas de Saúde do estado. O objetivo é impedir sequelas das doenças transmitidas pelo vetor Aedes Aegypti nos bebês. 

No caso específico da dengue, o autor explica que o maior perigo é a interferência que doença pode acarretar na coagulação sanguínea, fazendo a placenta da gestante se desprender e resultar em aborto ou parto prematuro. Já em outra patologia transmitida pelo mesmo mosquito e identificada como zika vírus, a preocupação é com a possibilidade de que gere uma malformação congênita chamada microcefalia e outros defeitos cerebrais graves no feto. A matéria, protocolada sob o processo de nº 1958/22, aguarda a entrada na primeira fase de discussão plenária.

No outro projeto citado, o ex-deputado Diego Sorgatto, atual prefeito de Luziânia, incentiva o controle biológico do mosquito transmissor da dengue por meio do estímulo ao cultivo específico de mudas de duas espécies vegetais: o capim “Citronela” (Cymbopogon Winterianus) e a “Crotalária” (Crotalaria Juncea). A primeira, por seus efeitos repelentes. A segunda, por atrair insetos predadores das larvas do Aedes Aegypti, que é vetor da doença. A matéria, protocolada junto ao processo de nº 5925/19, aguarda primeira fase de discussão e votação.

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Caso aprovada, a medida defendida por Sorgatto na Casa deverá ser incorporada às ações desenvolvidas por agentes de saúde em atuação no estado. A inovação impactará diretamente os trabalhos de prevenção e combate hoje vigentes na área, especialmente os programas de cunho educativo, que envolvem a realização de palestras em escolas, empresas, igrejas e outras instituições comunitárias.

Aconteceu no Alego Ativa

Regina Maria Maciel é uma das representantes desse segmento. Ela atua na Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Rio Verde e esteve coordenando o estande de combate à dengue, durante a 15ª edição do Alego Ativa, realizada em maio. 

O programa itinerante integra um pacote de ações da Mesa Diretora desta 19ª Legislatura. A iniciativa, que visa ampliar a representatividade e o envolvimento do Parlamento goiano com a sociedade, reuniu, na ocasião, um total de 45 entidades parceiras. Juntas, elas foram responsáveis pela oferta de mais de 140 frentes de serviço, que, em conjunto, contabilizaram cerca de 8 mil atendimentos no município.

Com taxa de incidência de 115 casos por 100 mil habitantes, Rio Verde se enquadra, hoje, na categoria de risco médio para a dengue. Embora não esteja entre os mais preocupantes, o município já contabilizava, até a data do evento, quando se encerrava a 21ª semana do ano, um total de quase 4,5 mil notificações confirmadas da doença. 

“O mosquito tem como característica natural procurar o lugar mais populoso, como as regiões mais ao centro da cidade, e também lugares que oferecem condições para ele nascer, com água parada. Nossa orientação é para que a população que vive nesses locais, onde se têm mais incidência de casos, procure eliminar os focos de contaminação, que tendem a se acumular sobretudo nos quintais das residências”, esclareceu a agente Regina Maciel.

Vigilância epidemiológica

Enquanto Regina listava as ações executadas pela frente de serviço que liderava, outros dois agentes de saúde, integrantes de sua equipe, chamavam a atenção do público presente no evento. Fantasiados de mosquitos Aedes Aegypti, eles abordavam os participantes e entregavam-lhes cartilhas educativas com orientações para a prevenção e combate à doença. A abordagem também foi usada como estratégia de investigação a respeito da disseminação dos sintomas entre a população local e também para a coleta de denúncias sobre focos de situações irregulares. 

Segundo a entrevistada, os bairros identificados com maior índice de contaminação passam a ser prioridade no roteiro traçado pela equipe de dedetização. Equipados com bloqueio costal e bomba inseticida, os agentes percorrem a cidade, fazendo a nebulização desses locais, especialmente em volta das casas de pacientes com sintomas.

Outra ação complementar seria ofertada pelo Carro Cata Treco, responsável pela limpeza e retirada dos objetos retentores de água, nas áreas onde há foco de contaminação. “O serviço é especialmente direcionado a locais onde há acumuladores. Em Rio Verde, temos um número grande de pessoas com essa característica”, comentou Regina.

A agente de vigilância epidemiológica informou, no entanto, que, ainda que a equipe local conte com um contingente considerável de técnicos, sem o devido engajamento coletivo da sociedade como um todo, todas as ações citadas tornam-se insuficientes. “A população, principalmente de grandes cidades, tem que colocar na cabeça que esse dever de casa é dela. A solução tem que vir da comunidade, com todos fazendo a sua parte para eliminar os focos”, alertou. 

Regina também ressaltou que, embora as ocorrências da doença no País tendam a aumentar durante o verão, por ser a estação mais chuvosa, o trabalho de combate à dengue deve ser constante. “Não é porque entramos em um período de estiagem de chuvas, que temos que relaxar com as prevenções. Agora é hora de todos darem uma organizada nos seus quintais, eliminando o que chamamos de depósitos permanentes, que são locais que funcionam como criadouros e reservatórios do mosquito mesmo no período de seca”, arrematou. 

Caixas d’água destampadas, bebedouros de animais, piscinas desativadas, reservatórios com coleta de água para tarefas domésticas foram alguns dos exemplos citados pela entrevistada. A orientação é tapar os locais, com tampa ou tela fina, de modo a evitar o nascimento do mosquito. “Esse monitoramento e controle do lixo e das águas paradas são as únicas formas de se combater a doença. Somente a partir do momento que as pessoas tomarem essa consciência, de que o lixo deve ser jogado no lixo, é que o nosso trabalho vai surtir o devido efeito”, pontuou. 

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Foco no lixo

Regina destacou, por fim, o problema do lixo, especialmente o descartável, que é produzido e lançado no meio ambiente todos os dias. Segundo ela, esse é o principal vilão no combate às chamadas arboviroses urbanas – categoria de doenças que têm em comum o fato de serem causadas por vírus transmitidos por mosquitos. 

Como bem lembra Regina, a propagação destes vetores e, consequentemente,  das patologias a eles associadas, é uma situação que guarda relações diretas com a má gestão do lixo, sobretudo com a baixa adesão aos critérios estabelecidos pela Política Na­cional de Resíduos Sólidos (PNRS), em vigor desde 2010. 

Como nos casos de dengue, o agravamento do problema citado também pode ser observado em números. Isso é o que ficou demonstrado pelo mais recente Índice de Sustentabilida­de da Limpeza Urbana, divulgado pelo sindicato na­cional das empresas em atuação no setor, em 2021. 

No documento, que mapeia o grau de aderência das cidades brasileiras à PNRS, Goiás apresenta um desempenho considerado muito abaixo do esperado para a quase totalidade das localidades avaliadas. Dos 168 municípios investigados, apenas Águas Lindas, no entorno do Distrito Federal, alcançou um patamar considerado de nível médio no estudo. 

Nas primeiras três edições da divulgação (2017-2019), Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia, as três cidades mais populosas do estado, também haviam atingido rendimento similar, o que não se sustentou nos dois últimos lançamentos da série. Embora o rebaixamento tenha sido geral para todos os três municípios citados, o último foi o que registrou maior queda e, consequentemente, o pior desempenho no período. 

Para chegar a esses resultados, foram consideradas quatro dimensões da política de gestão de resíduos sólidos: a cobertura da coleta, os investimentos realizados no setor, a reciclagem e a destinação final ambientalmente adequada. Os dados foram obtidos a partir de estatísticas fornecidas ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), referentes ao exercício de 2019. O cadastro do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) reuniu, na ocasião, 3.572 municípios participantes. 

Deste total, o estudo revela, em sua 6ª edição, que 68% dos municípios brasileiros se enquadram na faixa “muito baixa” de adesão; 19%, na faixa “baixa”; 8%, na “média”; 4%, na “alta”; e, apenas 2, na “muito alta”. Esse dois últimos estão localizados na região Sul do País, sendo citados Quedas do Iguaçu, no Paraná; e Nova Trento, em Santa Catarina. Ambas as localidades possuem população superior a 33 mil e 14 mil habitantes, respectivamente.  

Segundo relatório divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), o Brasil gera, anualmente, mais de 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Em termos individuais, isso significa dizer que cada brasileiro descarta, diariamente, pouco mais de 1 kg de material reciclável no lixo e até mesmo no meio ambiente. A região Centro-Oeste é responsável por 7,5% do total de descartes do País.

O documento aponta, ainda, que, a despeito das diversas proibições, há décadas vigentes, para impedir a poluição causada por resíduos sólidos, práticas de destinação inadequada se fazem atualmente presentes em todas as regiões do país, com lixões a céu aberto em pleno funcionamento. Segundo relatado, essa situação tem causado prejuízos à saúde de 77,5 milhões de pessoas, gerando um custo anual que já bate a casa dos bilhões de dólares em gastos com tratamentos médicos e hospitalares e na mitigação da contaminação ambiental.

A doença

A dengue se destaca como uma doença infecciosa febril aguda, que pode se manifestar de forma benigna ou grave. Entre os fatores que contribuem para o agravamento da doença, estão: a potência do vírus, infecções de repetição pelo agente causador da patologia e fatores individuais como enfermidades crônicas (diabetes, asma brônquica, anemia falciforme).

Após a infecção, o doente pode apresentar sintomas como febre, dor de cabeça e pelo corpo, náuseas ou até mesmo não apresentar qualquer sintoma. O aparecimento de manchas vermelhas na pele, sangramentos (nariz, gengivas), dor abdominal intensa e contínua e vômitos persistentes podem indicar um sinal de alarme para dengue hemorrágica. Esse é um quadro grave que necessita de imediata atenção médica, pois pode ser fatal.

A doença é considerada uma das arboviroses urbanas mais recorrentes, seguida da zika e chikungunya. Em todos os três casos, o vetor de transmissão é a picada da fêmea infectada do Aedes aegypti. Nas áreas de floresta, a espécie é igualmente responsável pela propagação da febre amarela.

Fonte: Assembleia Legislativa de GO

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