Valter Campanato
O ex-presidente Jair Bolsonaro negou nesta terça-feira (10) ter cogitado dar um golpe de Estado durante seu mandato. A declaração foi feita em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação que apura a tentativa de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022.
“Da minha parte, nunca se falou em golpe. Golpe é abominável. O golpe até seria fácil começar. O afterday é imprevisível e danoso para todo mundo. O Brasil não poderia passar por uma experiência dessa. Não foi sequer cogitada essa hipótese de golpe no meu governo”, disse o ex-presidente.
Bolsonaro afirmou que os atos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas em Brasília, não configuram tentativa de golpe. “Eu fico até arrepiado quando se fala que o 8 de janeiro foi um golpe. Eram 1,5 mil pessoas, pobres coitados”, declarou.
O ex-presidente também negou ter participado da elaboração de uma minuta que previa intervenção militar para reverter o resultado das eleições. Na segunda-feira (9), o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, em depoimento na condição de delator, afirmou que Bolsonaro participou da revisão do texto e sugeriu alterações. Bolsonaro disse desconhecer o conteúdo do documento.
“Da minha parte, eu sempre tive o lado da Constituição. Refuto qualquer possibilidade de falar em minuta de golpe e uma minuta não esteja enquadrada na Constituição”, afirmou.
Ele também disse que nunca atacou o sistema eleitoral. “A desconfiança [em relação às urnas] não começou comigo, começou com Brizola lá nos anos 90, depois passou pro Flávio Dino”, afirmou.
Durante a oitiva, Bolsonaro tentou exibir um vídeo com declarações do ministro Flávio Dino questionando as urnas eletrônicas, mas teve o pedido negado por Moraes. “A intenção minha não é desacreditar [a urna eletrônica], sempre foi alertar para aprimorar”, disse.
"Se tivesse um voto semelhante ao do Paraguai ou das urnas agora da Venezuela, nenhum de nós estaríamos nesse momento, para mim bastante desagradável, de estar perante a vossa excelência nessa circunstância”, disse o ex-presidente, exaltando o sistema de voto impresso.
DEPOIMENTOS
Também prestaram depoimento nesta terça o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.
Heleno afirmou não ter conhecimento sobre o plano denominado “Punhal Verde Amarelo”, que, segundo a acusação, previa o monitoramento, eventual prisão e até uma possível execução de autoridades, como o próprio ministro Moraes e o presidente Lula. O general também negou saber da criação de um “gabinete de crise”, citado em documentos encontrados pela Polícia Federal.
“Eu, em nenhum momento, fui informado dessa nova atribuição. Não sabia onde era o gabinete, não sabia do que se tratava”, disse.
Anderson Torres, por sua vez, reconheceu falhas na segurança durante os atos de 8 de janeiro. Disse que não havia indicativos de que algo daquela magnitude poderia ocorrer e que não havia provas de fraudes nas urnas.
“Foi uma coincidência eu não estar em Brasília. Eu fui surpreendido com a invasão”, afirmou. Em relação à minuta de decreto encontrada em sua casa, disse se tratar de “um texto qualquer do Google”.
Já o almirante Almir Garnier negou ter colocado tropas da Marinha à disposição de Bolsonaro e disse que não teve conhecimento de qualquer indício de fraude nas urnas eletrônicas.
Até o fechamento desta reportagem, a audiência seguia em andamento no STF.
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